Os Motivos da Procrastinação: Uma Análise Psicanalítica

A procrastinação é um fenômeno complexo que afeta muitas pessoas e pode ser vista como um mecanismo de defesa diante de diversas pulsões e pressões internas e externas. Para compreender suas raízes, é necessário explorar os aspectos psíquicos envolvidos.

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Os Motivos da Procrastinação: Uma Análise Psicanalítica

A procrastinação é um fenômeno complexo que afeta muitas pessoas e pode ser vista como um mecanismo de defesa diante de diversas pulsões e pressões internas e externas. Para compreender suas raízes, é necessário explorar os aspectos psicológicos e emocionais envolvidos. Este artigo examina os motivos da procrastinação sob a luz da psicanálise, utilizando conceitos de Freud, Lacan, Winnicott e Klein.

A Repressão e a Formação de Sintomas

A procrastinação pode ser vista como uma forma de repressão, onde impulsos e desejos incompatíveis com os valores e hábitos do indivíduo são empurrados para o inconsciente. Esse processo de recalque, comum em neuroses obsessivas, histéricas e fóbicas, transforma esses impulsos reprimidos em sintomas. Ao "varrer para baixo do tapete" essas questões, a pessoa vive como se não houvesse amanhã, mas o amanhã sempre chega, trazendo à tona as pendências deixadas para trás.

O Narcisismo e o Ideal de Eu

Freud introduziu os conceitos de "ideal de eu" e "eu ideal" para descrever como os indivíduos buscam reencontrar um estado de narcisismo primário, tentando se ajustar às expectativas alheias. Esse ideal elevado muitas vezes resulta em autoexigências desmedidas e na projeção das fantasias sobre o que os outros esperam de nós. A procrastinação surge, então, como uma resposta ao medo de não atingir esses altos padrões, que frequentemente são mais severos do que as expectativas reais dos outros.

O Superego Tirânico

O superego, descrito por Freud e expandido por Melanie Klein, pode ser uma força tirânica que impõe exigências rigorosas ao indivíduo. Essa entidade fantasmagórica é construída pelas fantasias do sujeito sobre o que os outros esperam dele, resultando em um padrão inatingível. Quando o superego se torna extremamente crítico e destrutivo, o indivíduo paralisa, incapaz de agir por medo de nunca ser bom o suficiente. Esse perfeccionismo pode ser direcionado tanto para impressionar os outros quanto para corresponder às próprias expectativas irreais.

O Medo do Sucesso e a Autossabotagem

Freud também explorou o fenômeno dos que "fracassam no triunfo", onde o medo inconsciente do sucesso leva à procrastinação. Muitas vezes, a perspectiva de sucesso e reconhecimento gera ansiedade, e o indivíduo passa a se sabotar para evitar enfrentar novas pressões e expectativas. Esse medo está relacionado à configuração edípica, onde o sujeito teme ultrapassar as figuras parentais, evitando assim o sucesso que poderia simbolicamente "derrubá-los".

A Pulsão de Morte e o Masoquismo

A procrastinação pode ser vista como uma manifestação da pulsão de morte, uma busca por um estado de não-tensão e retorno ao inorgânico. Esse comportamento autodestrutivo pode ser explicado pelo masoquismo, onde o sujeito encontra prazer no sofrimento e na dor. A repetição desse ciclo vicioso é uma forma de evitar a responsabilidade e a ação, perpetuando o estado de inação e frustração.

Fatores Sociais e Culturais

A era neoliberal e as demandas excessivas da sociedade contemporânea também contribuem para a procrastinação. As pessoas são constantemente bombardeadas por expectativas de sucesso e produtividade, levando-as a se perderem no tempo e no espaço, muitas vezes gastando horas nas redes sociais em busca de distração. Esse comportamento pode ser uma fuga da pressão incessante para atingir padrões inalcançáveis.

O Medo de Ser Controlado

A procrastinação pode ser uma forma indireta de resistência ao controle externo. Ao adiar tarefas, o indivíduo afirma sua autonomia e contesta a imposição de prazos e expectativas alheias. Esse comportamento reflete um desejo inconsciente de manter o controle sobre sua própria vida, mesmo que isso resulte em autossabotagem e frustração.

Conclusão

A procrastinação é um fenômeno multifacetado que envolve uma complexa interação de fatores psicológicos, emocionais e culturais. Entender suas raízes na repressão, no narcisismo, no superego tirânico, no medo do sucesso, na pulsão de morte e nas dinâmicas sociais pode ajudar a desenvolver estratégias mais eficazes para lidar com esse comportamento. A Análise é uma ferramenta valiosa para explorar esses fatores inconscientes, ajudando o indivíduo a libertar-se das amarras que sustentam a procrastinação e a buscar uma vida mais plena e produtiva.

Por Rode Ziembick – Psicanalista, Palestrante, Mentora de Carreira