A Substância - o filme 2024
O filme traz em primeiro plano uma crítica social de uma sociedade opressora que eleva os padrões estéticos a valores humanos. Amor à beleza e não ao humano atrás daquela pele. A submissão da mulher às exigências sociais de juventude eterna e a entrega...
Escrito por: Rode Ziembick
14/11/2024A vida sem Substância
A vida pequena de quem vive apenas da própria carne.
O filme traz em primeiro plano uma crítica social de uma sociedade opressora que eleva os padrões estéticos a valores humanos.
Amor à beleza e não ao humano atrás daquela pele. A submissão da mulher às exigências sociais de juventude eterna e a entrega impensada aos procedimentos estéticos para retardar o envelhecimento.
Essa análise, embora válida, pode ser ampliada para um vértice sob a perspectiva da utilização da beleza como ferramenta de ascensão social e financeira. A beleza é poder! Transformada em produto há séculos, é vendida a peso de ouro. A beleza humana também tem sido objetificada e comercializada.
A personagem Elizabeth Sparkle, fundamentou toda uma existência na aparência, usufruiu de benefícios garantidos pela beleza física. Ao perder seu poder devido o passar do tempo e consequente envelhecimento, nada mais havia restado. Alimentada pela falsa percepção de amor projetado pelo ideal de beleza de um público sedento, viveu uma vida pobre, apesar de toda riqueza e fama.
Ao novamente receber um corpo jovem, ela como Sue, voltou a sua vida anterior de fama e sucesso através da aparência, sem nada mudar, sem nada aprender. Um ciclo de repetição que seria eterno, se o final não fosse trágico e grotesco.
Embora tenhamos evoluído, e isso se deve às novas gerações, a sociedade ainda é opressora e valoriza a beleza e a juventude ao extremo, principalmente a feminina. No entanto, somos também responsáveis por limitar o uso do estético como moeda de troca para ascensão. A submissão à opressão estética, é apresentada no filme como se fosse a única opção, como se a vítima não fosse possível se valer da negativa, da denúncia ao etarismo, da rebeldia, da revolta e do grito como armas de defesa. Esse não é definitivamente o caminho mais fácil, mas é o caminho que preserva a dignidade humana e que propaga o respeito ao outro, sobretudo a mulher.
Denunciar qualquer forma de preconceito é fundamental para que temas como o etarismo venham para o debate. Somente através de denúncias e da subversão de normas ditatoriais é que podemos alcançar a equidade.
É sabido que muitas pessoas, especialmente mulheres, sujeitaram-se a situações humilhantes para alcançar fama, prestígio e dinheiro. A validade do status social e econômico é subjetivo, mas vale a pena pensar em outros caminhos, outras possibilidades de exercer arte sem passar pelo indigno e grotesco.
As cenas finais do filme, mostram a deformação dos dois corpos unificados, a exposição de partes humanas desqualificadas da sua posição de sensualidade, degradadas, pedaços desconexos, avolumados e desesperados por aceitação. A vida de apenas um corpo, sem substância chegando ao fim.
Em contrapartida, a vida pautada na construção de vínculos saudáveis e no crescimento intelectual, moral e ético não se degrada pelo envelhecimento. Esses atributos não se desgastam com o tempo, não se deformam, muito pelo contrário, se fortalecem.